A crise econômica, intensificada pelas medidas do ajuste fiscal, realismo tarifário e efeitos da Lava Jato, bateu em cheio na saúde financeira das empresas. Indicadores de inadimplência de pessoas jurídicas e pedidos de recuperação judicial estão em alta, somando-se a outros sinais das dificuldades financeiras das empresas, como o desemprego em alta.
Dados da Boa Vista SCPC mostram que a inadimplência das pessoas jurídicas cresceu 5,7% considerando os valores acumulados nos últimos quatro trimestres. Ao mesmo tempo, os pedidos de recuperação judicial de empresas aumentaram 4,2% em março, no acumulado dos últimos 12 meses.
Carlos Tortelli, sócio da Consult, afirma que o aumento da inadimplência vem principalmente da restrição ao crédito. “Primeiro, o custo se elevou. Segundo, os agentes financeiros passaram a ter um cuidado muito maior nas suas análises de risco. A busca ao crédito se tornou muito mais difícil e cara. A inadimplência é a antessala da recuperação judicial. Quem está inadimplente provavelmente vai chegar à recuperação”, afirma.
Um bom exemplo do crédito mais caro é o recente aumento da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que serve de referência para empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao setor produtivo. Em abril, a TJLP subiu de 5,5% para 6% ao ano. Foi a segunda alta consecutiva. Com isso, a taxa avança para o maior patamar desde 2009, quando atingiu 6,25%.
“O custo financeiro é muito considerável no caixa das empresas. Outro agravante é a recessão da economia. A receita não vem e o custo do crédito aumenta a despesa. Essa combinação é muito ruim para a inadimplência das empresas. É uma combinação fatal”, afirma Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.
O spread bancário (diferença entre a taxa que os bancos pagam para captar o dinheiro e os juros cobrados para emprestá-lo) também ficou maior no início do ano. Em fevereiro, segundo o Banco Central, o spread médio para pessoas jurídicas alcançou 9,2 pontos porcentuais, mais alto índice desde maio de 2012. Em março, o spread ficou em 9 pontos porcentuais.
Risco alto
Na análise da Boa Vista SCPC, o indicador de inadimplência leva em conta cheques devolvidos, títulos protestados e registros de débitos vencidos e não pagos. O órgão avalia que após dois anos de relativa estabilidade, o calote das empresas enfrenta um novo período de aceleração, que deve continuar durante todo o ano.
“Não temos expectativa que este ano mude, o crédito deve continuar difícil e caro. O cenário é bem desafiador. A economia vem há algum tempo crescendo menos e agora prevemos que serão mais dois anos ruins”, avalia Flavio Calife, economista da Boa Vista.
José Luiz Amaral Machado, conselheiro do Conselho Federal de Economia (Cofecon) afirma que as palavras de ordem para o empresário este ano são saúde financeira e planejamento. “Vamos ser obrigados a cuidar melhor da liquidez, ser mais seletivos nas operações, cuidar com o crédito. Tem que ter habilidade e fôlego para encarar 2015”, diz.
Atrasos do governo prejudicam negócios
Talita Boros Voitch
Empresas que fornecem produtos e serviço ao poder público têm enfrentado, desde julho do ano passado, outro agravante além do crédito mais caro e da baixa atividade econômica: o atraso nos pagamentos.
Em março, a dívida do governo do estado era calculada em R$ 1,6 bilhão, sendo que os grandes débitos terão pagamentos parcelados até o fim do ano.
A falta de pagamento prejudicou o andamento de pelo menos duas obras no Paraná: a ligação entre Curitiba e o aeroporto, parte do PAC da Copa, e a duplicação da PR-445, na região de Londrina.
Em ambos os casos, por conta dos atrasos, as empreiteiras responsáveis pelas obras tiveram de pisar no freio. “Teve um atraso, mas que está sendo normalizado. O problema começou em julho do ano passado. Esta situação está acontecendo no país inteiro”, afirma José Angelo Turra, presidente da Associação Paranaense dos Empresários de Obras Públicas (Apeop). As duas obras são de responsabilidade do governo do estado, mas dependem de recursos federais.
Segundo Turra, as paralisações de obras de grande porte implicam em desmobilizar trabalhadores e retirar equipamentos e máquinas do local, gerando custos adicionais às empresas. O empresário afirma que cerca de 40% dos trabalhadores das companhias que operam no setor de obras públicas já foram demitidos desde o início do ano.
“O maior problema atualmente é a falta de trabalho. Temos esperança, mas o governo federal não está sinalizando que deve executar novas obras este ano”, diz. Segundo o presidente da Apeop, diversas obras previstas para o Paraná, que tiveram seus contratos assinados no ano passado pelo PAC 2, não vão ser executadas. “O governo não tem dinheiro”, completa.
Fonte: Gazeta do Povo