O “fundo do poço” da crise pode ter sido atingido e a recuperação da economia parece estar sendo conduzida pelo rumo certo pela equipe econômica do governo interino de Michel Temer. Os relatos de empresários e associações do setor produtivo mostram que boa parte das empresas já fez ajustes de estoque e estrutura e vê sinais de melhora da confiança, o que poderia levar a um ciclo melhor a partir do segundo semestre. No entanto, eles ainda demonstram cautela para retomar os investimentos e aguardam medidas mais concretas do governo e uma acomodação maior de alguns riscos no horizonte, como questões do próprio cenário político e o nível do câmbio.
Uma definição melhor da visibilidade também poderia, quem sabe, ganhar ajuda de uma taxa de juro mais baixa e de uma disposição maior dos bancos a emprestar. Isso porque quase todos os segmentos ainda reclamam de problemas de crédito, seja pelo alto custo ou pela escassez. Os próximos meses deverão ser, dessa forma, cruciais para definir se o governo será capaz de coordenar ações que estimulem uma volta mais alentada da produção ou se haverá apenas uma espécie de estabilização, na qual a atividade para de piorar mas não se recupera de forma mais significativa.
“A confiança só não melhorou mais por conta das incertezas na esfera política”, diz Flávio Rocha, presidente da rede de lojas Riachuelo. Para Rocha, houve 100% de acerto na escolha da equipe econômica. “É a volta do protagonismo da livre iniciativa superando o protagonismo do Estado. É uma mudança ideológica”, afirmou o empresário. Rocha, que também é vice-presidente do Instituto de Vendas no Varejo (IDV), acredita que o fundo do poço foi em abril, quando a sondagem da entidade com 600 executivos de compras apontou queda de 10,8% das vendas na comparação anual. Em maio, a retração caiu para 7%; em junho para 6% e, tudo indica, pelo levantamento preliminar, que o número voltará ao azul em agosto.
Para Rocha, o único temor é de que a crise política contamine a estrada econômica. E ele não é o único com essa preocupação. “Já conseguimos enxergar uma luz no fim do túnel. A incerteza agora está na questão política, mas a economia está encaminhada com as pessoas certas nos lugares certos”, afirma Paulo Sales, presidente executivo do grupo pernambucano Baterias Moura, fabricante da baterias automotivas. Ele cita como exemplo as nomeações de Pedro Parente para a condução da Petrobras e de Henrique Meirelles para o ministério da Fazenda. “Quem está tocando a economia não são mais políticos”, diz.
Fonte: Valor Online