O consumo das famílias tirou o país da recessão, mas a retomada vai ser lenta porque o investimento das empresas dificilmente voltará antes da próxima eleição. Essa é a conclusão obtida a partir de entrevistas com economistas do Codace, o Comitê de Datação de Ciclo Econômicos que define picos e vales de crescimento. O grupo, independente, está hospedado na Fundação Getulio Vargas.
“Saímos da recessão, com certeza, mas temos pela frente uma retomada a passo de cágado manco”, diz Affonso Celso Pastore, coordenador do Codace e da consultoria AC Pastore & Associados.
Conforme a Folha antecipou no sábado (28), na avaliação do Codace, o país deixou a recessão no último trimestre de 2016. Para atestar a virada, o grupo observou vários indicadores, além Produto Interno Bruto (PIB).
Conferiram, por exemplo, o comportamento da indústria. Após cair 15% entre 2014 e 2015, uma “queda descomunal”, diz Pastore, ela iniciou 2016 de modo errático e engrenou no final do ano.
Outro fator foi o comportamento dos consumidores. Cerca de 60% do PIB é movido pelo consumo das famílias. O sofrimento financeiro delas foi grande em 2015. Naquele ano, foram destruídas, em média, 180 mil vagas formais por mês. “Uso um termo em latim para definir 2015: annus horribilis”, diz Pastore.
Passado o baque, ele explica, a pessoa olha para a garagem e cadastra o carro no Uber; ajuda o vizinho a pintar o muro e cobra um troco. O trabalho informal tirou as famílias do sufoco.
Mas o fator decisivo, ele diz, foi a queda da inflação e dos juros, que eleva o poder de compra: “Vamos dar o crédito a quem merece: o Banco Central conduziu adequadamente a política monetária”.
REAÇÃO
A recuperação do investimento, porém, que define a velocidade da retomada, deve ser lenta, marcada, dentre outros fatores, pelo alto nível de ociosidade das empresas.
Para o economista Paulo Picchetti, também integrante do Codace, o alto nível de ociosidade das empresas e a volta lenta do emprego formal vão manter a inflação –bem como os juros– em baixa em 2018. “Esgotada essa folga, é preciso garantir condições para que o crescimento volte de forma sustentável”, diz ele.
Nesse caso, vão pesar a qualidade do ajuste fiscal, que ainda engatinha, e a indefinição eleitoral. O investidor prefere esperar para ver quem será o novo presidente e a sua política econômica.
Para Picchetti, a queda de mais de 8% do PIB durante a recessão e as fracas projeções para o PIB indicam que “ainda tem chão para chegar no nível pré-crise: eu diria, mais dois anos, no mínimo”.
Fonte: Folha.com