Empresas paranaenses fogem da bolsa

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Participação do estado na Bovespa diminui de 14 para 11 empresas. Redução de custos é o principal motivo

A presença paranaense na bolsa de valores, que já era pequena, vai ficar ainda menor. Três das 14 empresas do estado que negociavam suas ações na Bovespa anunciaram que vão fechar capital. A Café Cacique, Iguaçu Café e Cia Providência anunciaram nos últimos dois meses que realizarão ofertas públicas de aquisição de ações (OPA) e, com isso, pretendem registrar o cancelamento dos seus registros em bolsa. Em menor medida, Positivo e Paraná Banco também anunciaram a recompra de parte dos seus papéis.

Segundo especialistas, não existe um motivo único que explique o movimento, mas dados da BM&FBovespa mostram que este é um fenômeno generalizado e que vem se desenhando há algum tempo. Nos últimos cinco anos, por exemplo, o número de empresas de capital aberto no país encolheu de 404 companhias para 369 – levando em conta que, neste meio tempo, pelo menos 40 empresas realizaram ofertas públicas de seus papéis e entraram no mercado de ações.

No caso das companhias paranaenses, cada uma delas tem um motivo para a recompra dos papéis. A Cia Providência, com sede em São José dos Pinhais, por exemplo, foi vendida à norte-americana Polymer Group Inc (PGI) por cerca de R$ 556 milhões. O negócio, anunciado em fato relevante em janeiro deste ano, correspondia a cerca de 71% das ações da empresa. O anúncio também informava que seria realizada uma OPA mais tarde para a recompra dos papéis restantes. Na venda para a PGI, o preço estipulado por cada ação ficou em R$ 9,55. Na oferta de compra, anunciada em junho deste ano, o valor dos papéis foi anunciado a R$ 7,35.

A Café Cacique, de Londrina, e a Iguaçú Café, de Cornélio Procópio, também informaram ao mercado que vão fechar capital. A Cacique, dona da marca Café Pelé, contava com 13% de suas ações em circulação livre e anunciou a recompra no final de julho, a R$ 11,70 por papel.

A Iguaçu tem seu leilão de fechamento previsto para a próxima semana, no dia 10, mas já anunciou que vai recomprar as suas ações que estavam na bolsa, que representam 32% do controle da companhia. Segundo o laudo de avaliação, o valor justo a ser pago por cada ação é R$ 7,99. As empresas não quiseram se pronunciar sobre a motivação para a movimentação.

Razões

Segundo o gestor de port­fólio da Inva Capital, Luiz Augusto Pacheco, companhias com menor presença na bolsa escolhem fechar capital para reduzir alguns custos. “Muitas companhias desistem do mercado aberto para não ter que arcar custos com um departamento de relação com investidores, auditorias e publicação de resultados”, afirma.

Segundo o analista-chefe da consultoria independente Empiricus, Roberto Altenhofen, a exigência de transparência na gestão e a necessidade de dar publicidade aos resultados e intenções de investimentos afastam algumas companhias que já conseguiram captar os recursos que queriam. “Outro fator é que alguns controladores que abriram capital no boom de IPOs estão aproveitando a crise para recomprar ações com 80% a 90% de desconto, é uma oportunidade no momento de baixa liquidez no mercado”, diz.

Atípico, 2014 não registra novos IPOs

Além da fuga de uma série de empresas do mercado acionário, 2014 também tem sido um ano atípico na entrada de companhias na bolsa. Até o momento, a Bovespa não registrou nenhuma oferta pública inicial de ações (IPO) – algo inédito nos últimos 15 anos. Nos últimos quatro anos, por exemplo, a bolsa brasileira teve uma média de oito registros de abertura de capital por ano.

Dois pedidos de registros foram feitos à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), mas diante das incertezas que minam a economia nacional, nenhuma empresa efetivamente lançou ações. No Paraná, a Ouro Verde manifestou o interesse em fato relevante ao mercado, mas desistiu do processo de abertura de capital.

Para o gestor de fundos da DCX Asset, Luiz Pardal, o país afugenta as empresas de novos investimentos pela falta de credibilidade econômica. “As empresas abrem capital para captar recursos para novos projetos, mas ninguém vai entrar em um negócio que não apresenta horizonte”, explica. “Até por causa das eleições, se alguma IPO fosse acontecer em 2014, isso teria acontecido nos primeiros meses do ano. Agora, só em 2015”, completa Pardal.

BNDES

O gestor de portfólio da Inva Capital, Luiz Augusto Pacheco, explica que nem mesmo a alta de praticamente 30% no Ibovespa neste ano foi suficiente para animar as companhias. “Quem pretendia lançar ações esse ano desistiu pelas condições ruins do mercado. Essa alta do Ibovespa acontece somente devido às pesquisas eleitorais, sem fundamento econômico. Então, as empresas acreditaram que teriam dificuldades para captar o montante pretendido”, afirma.

A forma como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) atuou nos últimos anos, privilegiando determinados grupos, também ajuda a explicar o arrefecimento de IPOs. “A controvertida política de aposta nos ‘campeões nacionais’ fez o BNDES exercer um papel que não é dele, e muitas empresas acabaram desistindo de entrar na Bolsa”, pontua Pardal. A interferência do governo em estatais de capital aberto, como a Petrobras, ajuda a espantar os investidores.

Laudo define preço a ser pago ao acionista

Para realizar o fechamento de capital da empresa, o acionista controlador ou a própria companhia deve realizar a oferta pública de aquisição de ações (OPA), por meio da qual serão comprados os papéis dos acionistas minoritários, garantindo ao ofertante uma maior participação na empresa.

De acordo com normas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o preço justo – valor pelo qual as ações serão compradas pelo ofertante – deve ser definido por meio de um laudo de avaliação da companhia, que é feito por uma empresa com experiência comprovada na área. O laudo que define o preço justo é feito com base em três critérios: o preço médio de cotação das ações nos últimos 12 meses; o valor econômico da companhia, calculado de acordo com indicadores como seu fluxo de caixa; e o valor do patrimônio líquido por ação da companhia.

Como o preço justo é formado por essas três variáveis, ele pode ser maior ou menor do que a cotação atual da ação na Bolsa. Uma ação cotada a R$ 30, por exemplo, pode ter um valor patrimonial de R$ 20, um valor econômico de R$ 23 e o laudo de avaliação pode definir um valor de oferta de R$ 25 pelos papéis.

Mas o preço da oferta também pode ser superior ao da sua cotação para garantir uma maior adesão dos investidores.

Fonte: Gazeta do Povo

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